São dez casos a mais na comparação com o ano anterior
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© JOÉDSON ALVES/AGÊNCIA BRASIL |
Em 2024, quase 1,5 mil mulheres foram assassinadas em razão do gênero, em contextos de violência doméstica, familiar, ou por menosprezo e discriminação relacionados à condição do sexo feminino. São dez casos a mais na comparação com o ano anterior.
Enquanto aumentam os casos de feminicídio, em 2024, houve queda de 8% nos casos de homicídio doloso contra mulher, que ocorre por outras motivações sem ligação com a questão do gênero.
Mudança na interpretação de agentes de segurança e da Justiça
Para a professora de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutora em estudos de gênero, Cristiane Brandão, a situação pode ser explicada pela forma como o feminicídio é tipificado, e pelas mudanças nas interpretações dos agentes de segurança e da Justiça.
“Na minha perspectiva, o que se teve foi, com o novo crime, uma necessidade de interpretação por parte do sistema de Justiça, da esfera da polícia e, depois, do Ministério Público quanto ao que seria o feminicídio. Antes eram 13 e com a criação do crime ou para quatro, e agora está aumentando. Então, me parece que essa linha de interpretação de que o reconhecimento do feminicídio pode estar aumentando e aí caindo o número de registros de homicídios de mulher, faz algum sentido. ”
Uso de tornezeleira por agressores de mulheres
Em abril deste ano, a lei ou a permitir o uso da tornozeleira eletrônica para agressores de mulheres que cumprem medida protetiva e não podem se aproximar delas. Para a especialista e professora Cristiane Brandão, a norma pode ajudar a reduzir os casos de feminicídio, desde que funcione de forma integrada.
“Eu acho que ela pode vir a ter algum tipo de impacto sim, se houver um sistema todo integrado tanto de fiscalização quanto de acionamento da patrulha Maria da Penha e de outras formas de prevenção ao feminicídio. Só a tornozeleira eletrônica, por si, não é um instrumento suficiente. ”
Os números do Ministério da Justiça também mostram mais de 83 mil estupros registrados em 2024, um aumento de pouco mais de 1% em relação a 2023. De cada dez casos no ano ado, quase nove tiveram mulheres como vítimas. A cada dia, 196 delas foram estupradas em 2024.
Paula Viana é uma das coordenadoras da organização não governamental feminista Curumim. Ela acredita que o aumento nas possibilidades de comunicação ajudou a aumentar os registros de violência contra a mulher.
“Esses índices aumentam porque, sim, melhorou a comunicação com as redes sociais. Nós precisamos avançar muito nesse apoio comunitário, mais próximo da mulher possível, e como isso pode garantir a integridade de mulheres, de crianças, de vítimas dessa violência de gênero, que tem sua base nesse sistema patriarcal. ”
Em valores absolutos, o estado de São Paulo lidera o número de estupros, mas, na proporção para cada 100 mil habitantes, a situação mais crítica do país está em três estados da Região Norte: Rondônia, Roraima e Amapá.
Por: Sayonara Moreno/Rádio Nacional
Fonte: Radioagência Nacional